SÍTIO DO SOSSEGO: 70 ANOS DE ACAMPAMENTOS DE EMBAIXADORES DO REI

Em fevereiro de 2021, o Sítio do Sossego comemora 70 anos de acampamentos de Embaixadores do Rei. Neste artigo vamos contar um pouco da história desse local privilegiado para realização da missionária através da organização Embaixadores do Rei.
​

LOCAL PRIVILEGIADO | Localizado às margens da BR-101 na altura do Km170, é cercado por montanhas e pela mata atlântica, bem afastado de qualquer propriedade urbana. Cortado por dois riachos de águas cristalinas é de uma beleza ímpar. Seu hino-oficial descreve perfeitamente o lugar, dando alguns atributos: “escondido entre altas montanhas”, “o mais precioso patrimônio dos batistas do brasil” e “suas jaqueiras é um convite para quem quer acampar”. Seu mascote é um Tucano, chamado de Zé Sossego.

COMPRA DO SÍTIO | Era 1950. Alvin Hatton estava há apenas 2 anos no Brasil e o trabalho dos Embaixadores do Rei se consolidava. Após o apoio inicial da União Feminina, finalmente a organização ER estava inserida dentro do organograma da Convenção Batista Brasileira, mas ainda faltava alguma coisa. Alvin Hatton buscava um local para transforma-lo em referência de acampamentos com os ER.  Foi então que ele ficou sabendo da existência de um sítio através do pastor David Gomes, um grande apoiador do trabalho ER. Alvin Hatton, após uma negociação arrojada com o dono do sítio, o professor Moyses Silveira, efetuou a compra por por 70.000 Cruzeiros, hoje o equivalente à 19.000 dólares americanos pagos à vista. Alvin Hatton conseguiu recursos vindo de ofertas de irmãos dos Estados Unidos e outra parte da poupança da família Hatton.

OS PRIMEIROS ACAMPAMENTOS | O Sítio do Sossego estava longe de ser o acampamento que conhecemos hoje. Ele era bem rústico, com alguns casebres e sem muita estrutura. Após comprar o sítio em agosto de 1950, Alvin Hatton fez o que pode para ajeitar logo o lugar para receber o primeiro acampamento de Embaixadores do Rei no Brasil. Isso finalmente aconteceu entre os dias 26 de fevereiro a 01 de março de 1951, com 18 acampantes de 3 igrejas representadas. Em julho do mesmo ano, realizou o segundo acampamento. Desta vez com 35 acampantes de 8 igrejas 3 diferentes Estados. No início, não havia a autoestrada federal, o que conhecemos hoje como BR-101. A forma que os embaixadores do Rei utilizavam para ir aos acampamentos era através de caravanas organizadas que saíam de trem da estação Leopoldina, na região central do Rio. Os acampantes desembarcavam na estação de Rio Dourado que ficava há cerca de 8 km do Sítio do Sossego. Esse percurso final era feito a pé ou em viagens em carros rurais antigos ou ônibus velhos por estrada de chão precária, com muita poeira em tempo seco e muita lama quando chovia. Chegar no Sítio do Sossego era uma aventura a parte.

OS PRIMEIROS ANOS | O Sítio do Sossego tal qual conhecemos hoje, foi sendo construído aos poucos. Antes não havia nenhuma piscina e os meninos se banhavam em lagos artificiais formados com represamento de um dos riachos que cortam o sítio. Alguns garotos dormiam nos casebres que serviam de cabine e outros dormiam em barracas. O acampamento era basicamente parecido com um acampamento rústico em ambiente de mata. Em 1954 um incêndio destruiu cozinha e cantina. Neste mesmo ano foram construídas mais duas cabines provisórias. Um trator fez a terraplanagem do sítio e foi construído o campo de futebol. Em dezembro de 1956 eram inaugurados a quadra de basquete, o galpão para cultos, alojamento para pastores e mais duas cabines. Pronto! O Sítio do Sossego já poderia receber o primeiro Acampamento Nacional de Embaixadores do Rei. Isso aconteceu entre os dias 13 a 18 de julho de 1957. Foi considerado o primeiro por conta da grande representatividade de estados presentes.


ADMINISTRAÇÃO | Por longos anos, o pastor William Alvin Hatton administrou diretamente o acampamento Sítio do Sossego. A “Casa de Alvin Hatton” está lá até hoje e é praticamente um “ponto turístico” dentro do acampamento. Tudo quanto é embaixada quer posar na frente da casa do Alvin Hatton. De fato, a família Hatton morou anos a fio naquela casa. Com os filhos crescendo e com sua aposentadoria, o pastor Hatton deixou de ser o administrador do Sítio do Sossego e a casa até hoje é morada de caseiros e administradores do Sítio do Sossego. Hoje o casal Glorinha e Reginaldo são os caseiros e moram lá. Eles conhecem o sítio com a palma da mão e tem uma relação afetiva de anos. Também foram administradores do sítio: Mauricio Alves da Silva Junior, José Carlos de Oliveira Quintanilha, David Araújo Mariano, Edward Barreto Antunes, Nivaldino Cipriano Bastos e Niraldo de Almeida Bastos. Atualmente quem administra o sítio é Deivid Couto Lopes, que foi Embaixador do Rei chegando a acampar várias vezes no Sítio do Sossego e também é um experiente conselheiro de ER. Assumiu em 2017 após breve trabalho de uma comissão que tinha como membros o pastor Felipe Oliveira e Raphael Sobrinho. Comissão essa que foi formada para tocar de maneira temporária a administração do sítio por conta da intervenção da Convenção Batista Brasileira na União Missionária de Homens Batistas do Brasil em 2016. Deivid conta em testemunho que em 2016 passou por um grave problema de saúde. Ficou perto da morte em leito UTI com problemas cardíacos. No momento mais crítico fez um voto com Deus que se ele voltasse a vida normal, dedicaria seu tempo para a família e para o ministério com os Embaixadores do Rei. O irmão Deivid se recuperou e encara a administração do sítio como um ministério de sua vida. Ele trabalha para realizar melhoramentos contínuos no acampamento que marcou tanto sua vida. Não foram administradores do Sítio do Sossego, mas foram figuras importantes para a realização de diversos acampamentos nacionais, são eles: Edson José Machado e Mizael Gomes. Ambos foram diretores de acampamento nacional por muitos anos e ficavam o mês inteiro no sítio para organizar os acampamentos. Em alguns anos o acampamento nacional era realizado em até seis semanas.

UM SÍTIO EM CONSTRUÇÃO | Como já falamos, Alvin Hatton comprou um sítio quase sem nada. Ele tinha apenas casebres e piscinas represadas e não tinha energia elétrica. No início era só a luz do dia, velas ou lamparinas. Os velhos casebres foram postos abaixo e foram construídos 4 alojamentos, ainda muito rudimentares. O núcleo do Abilene foi construído em 1963, mesmo ano da construção do portão do Sítio do Sossego, como é chamado o pórtico de entrada do acampamento. Até o final da década de 70 também funcionou no sítio uma panificadora que também servia como oficina de formação profissional de padeiros. Foi no ano de 1974 que começou a construção do Núcleo do Alvorada e no mesmo ano chega ao Sítio do Sossego a rede elétrica e é instalado um transformador. Em 1969 José Maciel da Silva chegava para trabalhar no Sítio do Sossego. Ele é citado no livro Sempre Embaixador (autobiografia de Alvin Hatton), como fundamental e extremamente criativo para novas realizar novas construções que trouxeram melhorias para o acampamento. Foi na era José Maciel de Silva que foram construídos o Salão Nobre, a nova cantina (a que conhecemos até hoje), ampliação da cozinha, núcleo Aquário, até a inauguração do núcleo Arco-íris (Edifício Ruby Collins) em 1982. Entre os anos de 2001 e 2002 o antigo refeitório foi posto abaixo, abrindo caminho para ampliação de espaço para estacionamento. Alguns metros à frente foi construído um novo refeitório. Um galpão maior, com maior capacidade de lugar e cozinha ampliada e novinha. Essa foi a última grande obra que trouxe uma nova instalação para o sítio. 

OS NÚCLEOS | Como já mencionado, o sítio foi passando por mudanças, construção e ampliações ao longo do ano. Você viu um pouco a história da construção de vários equipamentos do sítio. Hoje temos um formato já consagrado há mais de 30 anos, que é um modelo seguido por idades nos acampamentos nacionais. O primeiro núcleo é o Aquário, com 4 cabines e capacidade para cerca de 70 pessoas. O segundo núcleo é o Arco-íris, com capacidade para cerca de 120 pessoas e um salão de reunião que recebe o nome de Paulo de Azevedo. O terceiro núcleo é o Alvorada, com capacidade para cerca de 50 acampantes. O quarto núcleo é o Abilene. Ele é dividido em Abilene I e Abilene II, com capacidade total para 120 pessoas. Quando falamos do Abilene não podemos deixar de citar um comandante que teve forte identidade com o núcleo. Trata-se do conselheiro de ER Celso Pessoa Mendes. O núcleo Alto da Boa Vista é o quinto núcleo. Ele abriga os meninos com 16 anos e tem 4 cabines pequenas em formato de chalé que comportam cerca de 40 acampantes. O sexto núcleo é o Aspirantes. Ele foi criado em 2012 após o Fórum de Conselheiros de ER realizado em 2011 na cidade de Macaré, RJ, aprovar a mudança de idade dos ER de 16 para 17 anos. O núcleo comporta entre 30 e 40 acampantes. Geralmente ele fica alojado na “casa dos valentes” próximo a porteira de entrada do sítio. O sétimo é o núcleo dos valentes, para maiores de 18 anos. Ele fica além dos limites do sítio e a quantidade de acampantes é variável. Não tem cabine. Eles acampam de barraca no meio da mata. 

O FIM DO MUNDO | Para além dos domínios do sítio, não podemos deixar de falar do famoso “Fim do Mundo”. Antes acampamento do corpo diplomático, hoje chamado núcleo dos valentes. Dentre as figuras ilustres que passaram por esse núcleo, não podemos deixar de citar três nomes importantes, que representam tantos outros que ainda acampam ou que já passaram por ali. O primeiro é Samuel Rodrigues de Souza. Foi ele que colocou o acampamento do corpo diplomático no circuito do Sossego. David Araújo Mariano é sem dúvida uma das figuras mais conhecidas do núcleo. Ele que já tinha vindo de bicicleta de Nova Iguaçu ao Sítio do Sossego, em 2018 ele foi a pé. São mais de 180km de distância. Haja fôlego e vontade! Sem dúvida essa é uma tarefa de um valente. E por último não podemos deixar de citar Eder Hipólito, uma pessoa que não é muito fã de aparecer, mas que todos sabem de sua identificação com núcleo.

O LEGADO DO SÍTIO SOSSEGO | Hoje o “maior patrimônio dos batistas do Brasil” ainda é realidade para os Embaixadores do Rei. 70 anos depois de Alvin Hatton realizar seu sonho de construir um acampamento para Embaixadores do Rei ele ainda cumpre esse propósito. Apesar das dificuldades que a denominação, a organização e o próprio sítio passaram nos últimos tempos, hoje podemos dizer que Deus tem sustentado em sua infinita misericórdia aquele acampamento. Incontáveis são os frutos dos acampamentos nas tardes e manhãs da decisão, dos pastores, ministros de músicas e líderes que saíram com convicção do seu chamado após um acampamento. Quantos missionários foram despertados nas horas missionárias e quantos crentes são fieis no compromisso de orar e ofertar para missões? Incontáveis são as bênçãos que o Senhor derramou naquele lugar. Nossa oração é que ele possa continuar sendo esse lugar de confraternização, de louvor, adoração, devoção e chamado. Que venham mais decisões, mais amizades, mais peças e momentos marcantes, mais cultos em torno de uma fogueira! Que venham mais acampamento até que o Senhor venha!

Redação: Lucas Mourão. Revisão: Fernanda Mourão Tavares. Fotos: Acervo Memória ER. Apoio e pesquisa: Anderson Cirino, Hudson Siqueira das Flores e Juan Carlos dos Santos Neves.